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quinta-feira, 17 de junho de 2010

ARTE E SEXUALIDADE: direito de todos

Géssica Hellmann


Neste artigo abordo a orientação sobre a sexualidade de crianças e adolescentes especiais, como, por exemplo, portadores de Síndrome de Down e Cadeirantes. Sabemos que a sexualidade em si já é encarada com certo preconceito. Falar sobre ela já gera polêmica, imagine abordar este assunto no contexto de pessoas especiais.

Tela por Erin Prucha

Tela por Erin Prucha

Segundo Trabbold (2006) “Por medo de expor o adolescente a riscos físicos e emocionais, muitos pais negam a existência do problema e preferem encarar o filho como um “anjo assexuado”. Por outro lado, os profissionais das instituições especializadas tendem a rotulá-los como pessoas hipersexualizadas, que não têm autocontrole”.

Segundo a autora, uma pesquisa feita pelo psicólogo Hugues Costa da França Ribeiro, comprovou o que sua experiência de dez anos na área já havia lhe ensinado: que eles têm desejo sexual, anseiam por uma relação afetiva e que são capazes de aprender a lidar com sua própria sexualidade.

Para Gejer (2006) “O deficiente mental, como qualquer outro indivíduo, tem necessidade de expressar seus sentimentos de modo próprio e intransferível. A repressão da sexualidade, nestes indivíduos, pode alterar seu equilíbrio interno, diminuindo as possibilidades de se tornar um ser psiquicamente integral. Por outro lado, quando bem encaminhada, a sexualidade melhora o desenvolvimento afetivo, facilitando a capacidade de se relacionar, melhorando a auto-estima e a adequação à sociedade”.

“Uma pessoa com deficiência mental leve ou moderada pode compreender e adquirir parâmetros para discernir o que é adequado ou não, o que é privado ou público, quem tem permissão de tocar em suas partes íntimas e ainda entender as conseqüências do ato sexual, como a gravidez e o contágio de doenças sexualmente transmissíveis … A sexualidade é um fator importante para o desenvolvimento da personalidade de qualquer indivíduo, algo que não pode ser negado ou sublimado” afirma Ribeiro. (Trabbold, 2006)

A autora continua “Isolados em suas casas, em instituições especializadas, o deficiente geralmente é afastado do contato com outros grupos sociais”. Este “círculo” de proteção pode também restringir a evolução do indivíduo.

Existem controvérsias entre a escolha de uma Instituição Educacional Especializada e a inclusão em Escolas Normais. Qual delas é melhor para o desenvolvimento da criança e adolescente? Qual delas vai facilitar o desenvolvimento da independência, da socialização? Teoricamente a sociabilização do individuo especial com outros considerados “normais” facilita a inclusão. E quanto ao preconceito? Pode haver rejeição? Como lidar com isso?

A informação, o diálogo é extremamente importante para o desenvolvimento da sexualidade da criança e do adolescente.

“A omissão do tema em casa, na escola ou no consultório médico gera desinformação e preconceito. Muita gente prefere acreditar, por exemplo, que eles não sejam capazes de compreender os cuidados necessários para o sexo seguro. Por isso, o tema não deve ser tratado apenas nas entrelinhas. É preciso fornecer informações claras e precisas para que sejam assimiladas”. (Belisário, 2006)

É importante lembrar que a sexualidade faz parte da natureza humana. É preciso lembrar que a sexualidade vai além do ato sexual.

“Apesar das diferenças entre os deficientes, quase todos são capazes de aprender a desenvolver algum nível de habilidade social e conhecimento sexual. Isso pode incluir habilidade para diferenciar comportamento apropriado e não apropriado e para desenvolver um senso de responsabilidade de cuidados pessoais e relacionamento com os outros”. (Gejer, 2006).

A autora afirma que:

- Jovens com deficiência são sexualmente ativos;
- As aspirações sociais e sexuais de pessoas especiais não são diferentes dos seus pares;
- Estudos demonstram que problemas físicos e mentais têm menor influência sobre a expressão sexual do deficiente do que sua integração social;
- Pais de adolescentes com deficiência devem se unir com outros educadores para proporcionar uma boa educação sexual para seus filhos;

“O desejo e as descobertas da sexualidade são sinais de saúde. Mas quando o adolescente com deficiência começa a sair, conhecer pessoas, namorar e buscar uma vida sexual ativa, a família perde o controle sobre suas atividades, o que pode gerar medo de que ele seja rejeitado ou até mesmo abusado sexualmente. Com o intuito de proteger os filhos com deficiência, os pais costumam tratá-los como eternas crianças, negando assim o seu direito à sexualidade. Para acabar com medos, os processos de inclusão na escola e na comunidade são estratégias fundamentais”. (Belisário, 2006)

A arte é uma das atividades recomendadas pelos educadores como alternativa para o desenvolvimento da sexualidade das pessoas especiais. Tanto a arte como a sexualidade são prazerosas para o indivíduo.

Rocha (2006) diz que a Declaração Universal dos Direitos Humanos é inegavelmente um marco de referência para o posicionamento do ser humano no Mundo, na sua dimensão individual e social, destacando-se os princípios consignados na Declaração as “Normas sobre a Igualdade de Oportunidades para as Pessoas com Deficiência” (Nações Unidas, 1994).

O autor afirma que a conscientização acerca do que é qualidade de vida das pessoas com deficiência mental torna-se fundamental em áreas determinantes como: interação e relações sociais; bem-estar psicoafetivo e autonomia e poder de decisão. Contudo, não faz qualquer sentido falarmos destas dimensões da qualidade de vida da pessoa portadora de deficiência mental quando, ao mesmo tempo, se lhe é vedado o direito à sua sexualidade. “A pessoa portadora de deficiência mental deve aprender desde logo a reconhecer a sua individualidade, compreender o comportamento social e o seu comportamento como membro de uma sociedade, conhecer a sua própria vulnerabilidade e, essencialmente, saber escolher, decidir e desenvolver a sua própria sexualidade”.

A sexualidade faz parte do indivíduo, não se pode negar à pessoa especialal a liberdade de viver e expressar a sua sexualidade. Ela pode ser entendida também como expressão da afetividade, construção da auto-estima e do bem-estar.

Pais e educadores, entretanto, negociam suas representações com a realidade da vida na instituição e da vida familiar, produzindo “regulações” da sexualidade, em especial aquelas ligadas à contracepção (Venâncio, 2006).

Além das pessoas com deficiência mental, outras que sofrem preconceitos quanto a sua sexualidade são os cadeirantes. Principalmente porque “esbarram” em fatores culturais quanto à função social masculina e feminina.

“A despeito das mudanças que se processam quanto à função social da mulher hoje, principalmente a partir do seu engajamento no mercado de trabalho e, decorrente, de seu papel mais participativo em termos de eqüidade com o homem no seio da família, permanecem ainda resquícios da sociedade patriarcal e autoritária da sociedade fálica”. (Salimene, 2006)

A autora continua “Esses valores atingem de modo severo os portadores de deficiência física (em conseqüência de danos neurológicos). Estes, a despeito das disfunções sexuais presentes em diferentes níveis, quanto à ereção, ejaculação, orgasmo e reprodução, mantêm a sua sexualidade latente, quando entendida no seu conceito ampliado”.

“A ereção é resultado do enchimento dos corpos cavernosos do pênis por sangue. Como a conexão com o cérebro está prejudicada (pela lesão medular), a ereção psicogênica (pensar em algo que lhe de tesão) não ocorrerá. A ereção ocorrerá por mecanismos reflexos, ou seja, pela manipulação do pênis. Então, você poderá recorrer a métodos físicos, como colocar um anel na base do pênis para preservar a ereção por tempo mais prolongado. Com isto, você estará retendo o sangue nos corpos cavernosos. Os métodos químicos, que consistem em injeção na base do pênis ou introdução pela uretra de determinadas substâncias (prostaglandina), deverá ter o seu uso controlado por indicação médica para evitar efeitos colaterais indesejáveis. A solução definitiva mais comum é a colocação de uma prótese, feita de um material flexível, ficando o pênis sempre em estado de semi-ereção. Uma outra prótese, seria formada por tubos colocados no local dos corpos cavernosos. Estes tubos estariam em contato com uma bolsa cheia de líquido, que quando pressionada os encheria. Este líquido preenchendo os tubos agiria como se fosse o sangue preenchendo os corpos cavernosos, provocando a ereção”. (Moraes, 2006)

“É necessário que se incorporem ações terapêuticas voltadas para a reabilitação sexual dessas pessoas para ajudá-las a superar suas dificuldades. Assim buscamos caminhos para que possam exercitar sua sexualidade o mais plenamente possível, com a obtenção do prazer físico e psíquico, fatores contribuintes para sua reintegração social saudável”. (Salimene, 2006)

Ao aceitar o seu corpo lesado e, por incrível que possa parecer para alguns, até curti-lo, você estará pronto para que outras pessoas possam também aceitá-lo com suas limitações. Cito como exemplo a entrevista concedida ao Géh na primeira edição de sexualidade: “Costumo dizer que o sexo com os cadeirantes é muito mais parecido do que diferente do “tradicional”.As pessoas imaginam que é complexo, muito diferente, ou até mesmo que somos assexuados. Claro que cada caso é um caso. Falo de mim e do que sei dos meus amigos. Fazer sexo é sempre bom. Sinto o mesmo desejo de antes e as sensações são até mais intensas. A principal diferença é um trabalho maior do parceiro, que vai me ajudar com as posições…” afirma Juliana Oliveira, tetraplégica.

Se você não sente metade do seu corpo, você descobrirá sozinho ou junto com seu parceiro que seu corpo é uma fonte de prazer e que ao estimular outras partes sensíveis, como a boca, a orelha, o peito e as costas você poderá estar descobrindo a sua nova sexualidade. (Moraes, 2006)

Ao compreendermos que a sexualidade é mais complexa que o ato sexual, é carinho, é sentimento, é sensações, é tudo que proporciona bem estar e prazer ao indivíduo. Desta forma é possível quebrar tabus e viver plenamente a sexualidade. Este conceito é válido para todas as pessoas, especiais ou não.

Bibliografia

Belisário Filho, José Ferreira. Sexualidade e Deficiência: superando preconceitos. Disponível em: http://www.andi.org.br/noticias/templates/boletins/template_pontoj.asp?articleid=2933&zoneid=23. Acessado em: 24/11/2006.

Gejer, Débora. O adolescente com deficiência mental e sua sexualidade. Disponível em: http://www.entreamigos.com.br/textos/sexualid/oadole.htm. Acessado em: 24/11/2006.

Morais, José Carlos. Conversando sobre sexo. Disponível em: http://www.entreamigos.com.br/textos/sexualid/sexo.html. Acessado em: 24/11/2006.

Rocha, Jorge. Viver a sexualidade é um direito de todos. Disponível em: http://www.malhatlantica.pt/ecae-cm/sexualidade1.htm. Acessado em: 24/11/2006.

Salimene , Arlete Camargo de Melo. A Sexualidade da pessoa com deficiência física. Disponível em: http://www.entreamigos.com.br/textos/sexualid/sexpede.htm. Acessado em: 24/11/2006.

Trabbold, Ângela. Sexo dos Anjos. Disponível em: http://www.entreamigos.com.br/textos/sexualid/sexanjo.htm. Acessado em: 24/11/2006.

Venâncio, Ana Teresa A. Representações sociais da diferença: sexualidade e deficiência mental. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312006000100008&lng=es&nrm=&tlng=pt. Acessado em: 24/11/2006.

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