Nunca deixe que te coloquem para baixo
Estava me sentindo muito deprimida com sucessivos fatos profissionais que estavam deixando a auto estima muito baixa.
Um dia, comecei a fazer uma retrospectiva de minha vida e me veio a tona recortes da adolescência. Lembrei-me que sempre lutei muito para ser e ter o melhor. É verdade que, nesta época, lutava mais para ter.Vivia em condições miseráveis, pobreza e muita fartura(fartava tudo).Mas não me faltava coragem e determinação.Eu queria me vestir, namorar, freqüentar lugares, enfim, ter os mesmos direitos que as outras meninas e meninos de classe média tinham.
Eu era uma menina bonita.De cabelos negros, lisos e longos e um corpo escultural. Muito mocinha, vendia alumínio em dias de feira,sobre uma lona estirada no chão e levava cantada de homens nojentos, mal cheirosos,com características pedófilas,as quais eu fingia não escutar. Entretanto, nas festas do colégio onde estudava ou outros eventos sociais eu virava cinderela, com direito a perfume, roupas bonitinhas e leves paqueras com os meninos mais desejados.
Não era só alumínio que eu vendia para ter uma vida melhor.Durante a semana fazia muito artesanato, com destaque para crochet e bordados e a noite viajava e sonhava atraves dos livros. Virava as madrugadas, com um cotoco de vela acesa( não tinhamos energia elétrica), lendo, sob os protestos de minha mãe, que reclamava e reclamava, com medo que a casa pegasse fogo ou que eu ficasse como "Martim Doido", o qual ficou tantã de tanto ler.
Por que eu estava divagando nas minhas lembranças?
Veio a idéia de resgatar o gosto pelo artesanato. Crochet? Bordado? Não! Nada disto me encantava mais, talvez porque me lembrassem que os fazia por mera necessidade.
Na verdade eu queria fazer arte. Aproveitar a habilidade manual que tenho associada ao desejo de representar o mundo através da capacidade estética.
Pensei, então, em aprender a modelar porcelana fria( famoso biscuit). Queria aprender a técnica e começar a criar minhas próprias peças.
A despeito de não querer copiar, dirigi-me a um centro de artesanato para aprender o manejo do material, as técnicas, materiais, etc.
Naquele dia me senti muito ignorante, mais que isto, destrocei mais e mais minha auto estima, pois a professora me disse claramente que eu nunca iria conseguir modelar qualquer coisa, haja vistas que minhas mãos eram quentes.Voltei para casa muito triste.
Um misto de decepção e de raiva. Como àquela professora, menina novinha, de gosto duvidoso, poderia dizer-me que eu não seria capaz?
Depois do processo de elaboração de minhas emoções me vi diante do PC, navegando em busca de informações acerca desta arte. Quem eu encontrei na net? Uma expert na artcountry. Me deslumbrei com tanta beleza, com tanta sensibilidade. Linda é o seu nome! Lindas são suas peças. De beleza ímpar: criadora e obra.
Ainda em êxtase me vi em Sampa, em dias de setembro. Diante de um conceito em biscuit disse para mim mesma: serei capaz de fazer algo similar? Mas eu ja sabia a resposta senão não estaria ali, diante de uma artista como Linda. Neste momento meu lado bruxa aflorou, tanto para o bom quanto para o mal sentido, rsrsrs. Já antecipava que seria capaz, sim, pois a professora não era só uma artista do biscuit, mas, na essência uma artista na vida e na arte de conviver e ensinar.Meu lado ruinzinha dizia: ah, professorinha que me fez infeliz por um instante, ah se você me visse agora!
Durante uma semana eu me deliciei com a companhia de mestras da porcelana fria: Moniquinha, Beth, Tania...quantos momentos engraçados junto com Linda, Linda Santos, a mestra da artcontry.
Posso não ser uma artista, mas mostrei para mim mesma que àquela professora me empurrou para frente, não me botou para baixo. Hoje agradeço a ela por ter me dito aquilo, pois não me limitei à mediocridade.
Minha bruxa, criada por Linda, bem como minha camponesa, e executadas por mim, com seu apoio, estão em seu ateliê, esperando minha volta. Deixei-as lá, não só para secarem, mas principalmente para ter mais um motivo para voltar.
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