sábado, 19 de junho de 2010
Eu
*humorista, romantica, pragmatica, poetisa, rude
*tudo junto
*santa
*demonia
*menina
*mulher
*freira
*devassa
*não gosto de mesmice
*kda momento eu me resignifico, para dar sentido a minha pobre existencia
sexta-feira, 18 de junho de 2010
SARAMAGO VIVE, NÃO TENHO DÚVIDAS
ADEUS SARAMAGO! OU ATÉ BREVE?
José Saramago
Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco. A casa do rei tinha muitas mais portas, mas aquela era a das petições. Como o rei passava todo o tempo sentado à porta dos obséquios (entenda-se, os obséquios que lhe faziam a ele), de cada vez que ouvia alguém a chamar à porta das petições fingia-se desentendido, e só quando o ressoar contínuo da aldraba de bronze se tornava, mais do que notório, escandaloso, tirando o sossego à vizinhança (as pessoas começavam a murmurar, Que rei temos nós, que não atende), é que dava ordem ao primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, que não havia maneira de se calar. Então, o primeiro-secretário chamava o segundo-secretário, este chamava o terceiro, que mandava o primeiro-ajudante, que por sua vez mandava o segundo, e assim por aí fora até chegar à mulher da limpeza, a qual, não tendo ninguém em quem mandar, entreabria a porta das petições e perguntava pela frincha, Que é que tu queres. O suplicante dizia ao que vinha, isto é, pedia o que tinha a pedir, depois instalava-se a um canto da porta, à espera de que o requerimento fizesse, de um em um, o caminho ao contrário, até chegar ao rei. Ocupado como sempre estava com os obséquios, o rei demorava a resposta, e já não era pequeno sinal de atenção ao bem-estar e felicidade do seu povo quando resolvia pedir um parecer fundamentado por escrito ao primeiro-secretário, o qual, escusado se ria dizer, passava a encomenda ao segundo-secretário, este ao terceiro, sucessivamente, até chegar outra vez à mulher da limpeza, que despachava sim ou não conforme estivesse de maré.
Contudo, no caso do homem que queria um barco, as coisas não se passaram bem assim. Quando a mulher da limpeza lhe perguntou pela nesga da porta, Que é que tu queres, o homem, em lugar de pedir, como era o costume de todos, um título, uma condecoração, ou simplesmente dinheiro, respondeu, Quero falar ao rei, Já sabes que o rei não pode vir, está na porta dos obséquios, respondeu a mulher, Pois então vai lá dizer-lhe que não saio daqui até que ele venha, pessoalmente, saber o que quero, rematou o homem, e deitou-se ao comprido no limiar, tapando-se com a manta por causa do frio. Entrar e sair, só por cima dele. Ora, isto era um enorme problema, se tivermos em consideração que, de acordo com a pragmática das portas, ali só se podia atender um suplicante de cada vez, donde resultava que, enquanto houvesse alguém à espera de resposta, nenhuma outra pessoa se poderia aproximar a fim de expor as suas necessidades ou as suas ambições. À primeira vista, quem ficava a ganhar com este artigo do regulamento era o rei, dado que, sendo menos numerosa a gente que o vinha incomodar com lamúrias, mais tempo ele passava a ter, e mais descanso, para receber, contemplar e guardar os obséquios. À segunda vista, porém, o rei perdia, e muito, porque os protestos públicos, ao notar-se que a resposta estava a tardar mais do que o justo, faziam aumentar gravemente o descontentamento social, o que, por seu turno, ia ter imediatas e negativas consequências no afluxo de obséquios. No caso que estamos narrando, o resultado da ponderação entre os benefícios e os prejuízos foi ter ido o rei, ao cabo de três dias, e em real pessoa, à porta das petições, para saber o que queria o intrometido que se havia negado a encaminhar o requerimento pelas competentes vias burocráticas. Abre a porta, disse o rei à mulher da limpeza, e ela perguntou, Toda, ou só um bocadinho. O rei duvidou por um instante, na verdade não gostava muito de se expor aos ares da rua, mas depois reflexionou que pareceria mal, além de ser indigno da sua majestade, falar com um súdito através de uma nesga, como se tivesse medo dele, mormente estando a assistir ao colóquio a mulher da limpeza, que logo iria dizer por aí sabe Deus o quê, De par em par, ordenou. O homem que queria um barco levantou-se do degrau da porta quando começou a ouvir correr os ferrolhos, enrolou a manta e pôs-se à espera. Estes sinais de que finalmente alguém vinha atender, e que portanto a praça não tardaria a ficar desocupada, fizeram aproximar-se da porta uns quantos aspirantes à liberalidade do trono que por ali andavam, prontos a assaltar o lugar mal ele vagasse. O inopinado aparecimento do rei (nunca uma tal coisa havia sucedido desde que ele andava de coroa na cabeça) causou uma surpresa desmedida, não só aos ditos candidatos mas também à vizinhança que, atraída pelo repentino alvoroço, assomara às janelas das casas, no outro lado da rua. A única pessoa que não se surpreendeu por aí além foi o homem que tinha vindo pedir um barco. Calculara ele, e acertara na previsão, que o rei, mesmo que demorasse três dias, haveria de sentir-se curioso de ver a cara de quem, sem mais nem menos, com notável atrevimento, o mandara chamar. Repartido pois entre a curiosidade que não pudera reprimir e o desagrado de ver tanta gente junta, o rei, com o pior dos modos, perguntou três perguntas seguidas, Que é que queres, Por que foi que não disseste logo o que querias, Pensarás tu que eu não tenho mais nada que fazer, mas o homem só respondeu à primeira pergunta, Dá-me um barco, disse. O assombro deixou o rei a tal ponto desconcertado, que a mulher da limpeza se apressou a chegar-lhe uma cadeira de palhinha, a mesma em que ela própria se sentava quando precisava de trabalhar de linha e agulha, pois, além da limpeza, tinha também à sua responsabilidade alguns, trabalhos menores de costura no palácio como passajar as peúgas dos pajens. Mal sentado, porque a cadeira de palhinha era muito mais baixa que o trono, o rei estava a procurar a melhor maneira de acomodar as pernas, ora encolhendo-as ora estendendo-as para os lados, enquanto o homem que queria um barco esperava com paciência a pergunta que se seguiria, E tu para que queres um barco, pode-se saber, foi o que o rei de facto perguntou quando finalmente se deu por instalado, com sofrível comodidade, na cadeira da mulher da limpeza, Para ir à procura da ilha desconhecida, respondeu o homem, Que ilha desconhecida, perguntou o rei disfarçando o riso, como se tivesse na sua frente um louco varrido, dos que têm a mania das navegações, a quem não seria bom contrariar logo de entrada, A ilha desconhecida, repetiu o homem, Disparate, já não há ilhas desconhecidas, Quem foi que te disse, rei, que já não há ilhas desconhecidas, Estão todas nos mapas, Nos mapas só estão as ilhas conhecidas, E que ilha desconhecida é essa de que queres ir à procura, Se eu to pudesse dizer, então não seria desconhecida, A quem ouviste tu falar dela, perguntou o rei, agora mais sério, A ninguém, Nesse caso, por que teimas em dizer que ela existe, Simplesmente porque é impossível que não exista uma ilha desconhecida, E vieste aqui para me pedires um barco, Sim, vim aqui para pedir-te um barco, E tu quem és, para que eu to dê, E tu quem és, para que não mo dês, Sou o rei deste reino, e os barcos do reino pertencem-me todos, Mais lhes pertencerás tu a eles do que eles a ti, Que queres dizer, perguntou o rei, inquieto, Que tu, sem eles, és nada, e que eles, sem ti, poderão sempre navegar, Às minhas ordens, com os meus pilotos e os meus marinheiros, Não te peço marinheiros nem piloto, só te peço um barco, E essa ilha desconhecida, se a encontrares, será para mim, A ti, rei, só te interessam as ilhas conhecidas, Também me interessam as desconhecidas quando deixam de o ser, Talvez esta não se deixe conhecer, Então não te dou o barco, Darás. Ao ouvirem esta palavra, pronunciada com tranquila firmeza, os aspirantes à porta das petições, em quem, minuto após minuto, desde o princípio da conversa, a impaciência vinha crescendo, e mais para se verem livres dele do que por simpatia solidária, resolveram intervir a favor do homem que queria o barco, começando a gritar, Dá-lhe o barco, dá-lhe o barco. O rei abriu a boca para dizer à mulher da limpeza que chamasse a guarda do palácio a vir restabelecer imediatamente a ordem pública e impor a disciplina, mas, nesse momento, as vizinhas que assistiam das janelas juntaram-se ao coro com entusiasmo, gritando como os outros, Dá-lhe o barco, dá-lhe o barco. Perante uma tão iniludível manifestação da vontade popular e preocupado com o que, neste meio tempo, já haveria perdido na porta dos obséquios, o rei levantou a mão direita a impor silêncio e disse, Vou dar-te um barco, mas a tripulação terás de arranjá-la tu, os meus marinheiros são-me precisos para as ilhas conhecidas. Os gritos de aplauso do público não deixaram que se percebesse o agradecimento do homem que viera pedir um barco, aliás o movimento dos lábios tanto teria podido ser Obrigado, meu senhor, como Eu cá me arranjarei, mas o que distintamente se ouviu foi o dito seguinte do rei, Vais à doca, perguntas lá pelo capitão do porto, dizes-lhe que te mandei eu, e ele que te dê o barco, levas o meu cartão. O homem que ia receber um barco leu o cartão de visita, onde dizia Rei por baixo do nome do rei, e eram estas as palavras que ele havia escrito sobre o ombro da mulher da limpeza, Entrega ao portador um barco, não precisa ser grande, mas que navegue bem e seja seguro, não quero ter remorsos na consciência se as coisas lhe correrem mal. Quando o homem levantou a cabeça, supõe-se que desta vez é que iria agradecer a dádiva, já o rei se tinha retirado, só estava a mulher da limpeza a olhar para ele com cara de caso. O homem desceu do degrau da porta, sinal de que os outros candidatos podiam enfim avançar, nem valeria a pena explicar que a confusão foi indescritível, todos a quererem chegar ao sítio em primeiro lugar, mas com tão má sorte que a porta já estava fechada outra vez. A aldraba de bronze tornou a chamar a mulher da limpeza, mas a mulher da limpeza não está, deu a volta e saiu com o balde e a vassoura por outra porta, a das decisões, que é raro ser usada, mas quando o é, é. Agora sim, agora pode-se compreender o porquê da cara de caso com que a mulher da limpeza havia estado a olhar, foi esse o preciso momento em que ela resolveu ir atrás do homem quando ele se dirigisse ao porto a tomar conta do barco. Pensou ela que já bastava de uma vida a limpar e a lavar palácios, que tinha chegado a hora de mudar de ofício, que lavar e limpar barcos é que era a sua vocação verdadeira, no mar, ao menos, a água nunca lhe faltaria. O homem nem sonha que, não tendo ainda sequer começado a recrutar os tripulantes, já leva atrás de si a futura encarregada das baldeações e outros asseios, também é deste modo que o destino costuma comportar-se connosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mão para tocar-nos o ombro, e nós ainda vamos a murmurar, Acabou-se, não há mais que ver, é tudo igual.
Andando, andando, o homem chegou ao porto, foi à doca, perguntou pelo capitão, e enquanto ele não chegava deitou-se a adivinhar qual seria, de quantos barcos ali estavam, o que iria ser o seu, grande já se sabia que não, o cartão de visita do rei era muito claro neste ponto, por conseguinte ficavam de fora os paquetes, os cargueiros e os navios de guerra, tão-pouco poderia ser ele tão pequeno que resistisse mal às forças do vento e aos rigores do mar, o rei também havia sido categórico neste ponto, Que navegue bem e seja seguro, foram estas as suas formais palavras, assim implicitamente excluindo os botes, as faluas e os escaleres, os quais, sendo bons navegantes, e seguros, conforme a condição de cada qual, não tinham nascido para sulcar os oceanos, que é onde se encontram as ilhas desconhecidas. Um pouco afastada dali, escondida por trás de uns bidões, a mulher da limpeza correu os olhos pelos barcos atracados, Para o meu gosto, aquele, pensou, porém a sua opinião não contava, nem sequer havia sido ainda contratada, vamos ouvir antes o que dirá o capitão do porto. O capitão veio, leu o cartão, mirou o homem de alto a baixo, e fez a pergunta que o rei se tinha esquecido de fazer, Sabes navegar, tens carta de navegação, ao que o homem respondeu, Aprenderei no mar. O capitão disse, Não to aconselharia, capitão sou eu, e não me atrevo com qualquer barco, Dá-me então um com que possa atrever-me eu, não, um desses não, dá-me antes um barco que eu respeite e que possa respeitar-me a mim, Essa linguagem é de marinheiro, mas tu não és marinheiro, Se tenho a linguagem, é como se o fosse. O capitão tornou a ler o cartão do rei, depois perguntou, Poderás dizer-me para que queres o barco, Para ir à procura da ilha desconhecida, Já não há ilhas desconhecidas, O mesmo me disse o rei, O que ele sabe de ilhas, aprendeu-o comigo, É estranho que tu, sendo homem do mar, me digas isso, que já não há ilhas desconhecidas, homem da terra sou eu, e não ignoro que todas as ilhas, mesmo as conhecidas, são desconhecidas enquanto não desembarcarmos nelas, Mas tu, se bem entendi, vais à procura de uma onde nunca ninguém tenha desembarcado, Sabê-lo-ei quando lá chegar, Se chegares, Sim, às vezes naufraga-se pelo caminho, mas, se tal me viesse a acontecer, deverias escrever nos anais do porto que o ponto a que cheguei foi esse, Queres dizer que chegar, sempre se chega, Não serias quem és se não o soubesses já. O capitão do porto disse, Vou dar-te a embarcação que te convém, Qual é ela, É um barco com muita experiência, ainda do tempo em que toda a gente andava à procura de ilhas desconhecidas, Qual é ele, Julgo até que encontrou algumas, Qual, Aquele. Assim que a mulher da limpeza percebeu para onde o capitão apontava, saiu a correr de detrás dos bidões e gritou, É o meu barco, é o meu barco, há que perdoar-lhe a insólita reivindicação de propriedade, a todos os títulos abusiva, o barco era aquele de que ela tinha gostado, simplesmente. Parece uma caravela, disse o homem, Mais ou menos, concordou o capitão, no princípio era uma caravela, depois passou por arranjos e adaptações que a modificaram um bocado, Mas continua a ser uma caravela, Sim, no conjunto conserva o antigo ar, E tem mastros e velas, Quando se vai procurar ilhas desconhecidas, é o mais recomendável. A mulher da limpeza não se conteve, Para mim não quero outro, Quem és tu, perguntou o homem, Não te lembras de mim, Não tenho idéia, Sou a mulher da limpeza, Qual limpeza, A do palácio do rei, A que abria a porta das petições, Não havia outra, E por que não estás tu no palácio do rei a limpar e a abrir portas, Porque as portas que eu realmente queria já foram abertas e porque de hoje em diante só limparei barcos, Então estás decidida a ir comigo procurar a ilha desconhecida, Saí do palácio pela porta das decisões, Sendo assim, vai para a caravela, vê como está aquilo, depois do tempo que passou deve precisar de uma boa lavagem, e tem cuidado com as gaivotas, que não são de fiar, Não queres vir comigo conhecer o teu barco por dentro, Tu disseste que era teu, Desculpa, foi só porque gostei dele, Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar. O capitão do porto interrompeu a conversa, Tenho de entregar as chaves ao dono do barco, a um ou a outro, resolvam-se, a mim tanto se me dá, Os barcos têm chave, perguntou o homem, Para entrar, não, mas lá estão as arrecadações e os paióis, e a escrivaninha do comandante com o diário de bordo, Ela que se encarregue de tudo, eu vou recrutar a tripulação, disse o homem, e afastou-se.
A mulher da limpeza foi ao escritório do capitão para recolher as chaves, depois entrou no barco, duas coisas lhe valeram aí, a vassoura do palácio e a prevenção contra as gaivotas, ainda não tinha acabado de atravessar a prancha que ligava a amurada ao cais e já as malvadas estavam a precipitar-se sobre ela aos guinchos, furiosas, de goela aberta, como se ali mesmo a quisessem devorar. Não sabiam com quem se metiam. A mulher da limpeza pousou o balde, meteu as chaves no seio, firmou bem os pés na prancha, e, redemoinhando a vassoura como se fosse um espadão dos tempos antigos, fez debandar o bando assassino. Foi só quando entrou no barco que compreendeu a ira das gaivotas, havia ninhos por toda a parte, muitos deles abandonados, outros ainda com ovos, e uns poucos com gaivotinhos de bico aberto, à espera da comida, Pois sim, mas o melhor é mudarem-se daqui, um barco que vai procurar a ilha desconhecida não pode ter este aspecto, como se fosse um galinheiro, disse. Atirou para a água os ninhos vazios, quanto aos outros deixou-os ficar, até ver. Depois arregaçou as mangas e pôs-se a lavar a coberta. Quando acabou a dura tarefa, foi abrir o paiol das velas e procedeu a um exame minucioso do estado das costuras, depois de tanto tempo sem irem ao mar e sem terem de suportar os esticões saudáveis do vento. As velas são os músculos do barco, basta ver como incham quando se esforçam, mas, e isso mesmo sucede aos músculos, se não se lhes dá uso regularmente, abrandam, amolecem, perdem nervo, E as costuras são como os nervos das velas, pensou a mulher da limpeza, contente por estar a aprender tão depressa a arte de marinharia. Achou esgarçadas algumas bainhas, mas contentou-se com assinalá-las, uma vez que para este trabalho não podiam servir a linha e a agulha com que passajava as peúgas dos pajens antigamente, quer dizer, ainda ontem. Quanto aos outros paióis, viu logo que estavam vazios. Que o da pólvora estivesse desmunido, salvo uns pozinhos negros no fundo, que primeiro mais lhe pareceram caganitas de rato, não lhe importou nada, de facto não está escrito em nenhuma lei, pelo menos até onde a sabedoria duma mulher da limpeza é capaz de alcançar, que ir em busca duma ilha desconhecida tenha de ser forçosamente uma empresa de guerra. Já a ralou, e muito, a falta absoluta de munições de boca no paiol respectivo, não por si própria, que estava mais do que acostumada ao mau passadio do palácio, mas por causa do homem a quem deram este barco, não tarda que o sol se ponha, e ele a aparecer-me aí a clamar que tem fome, que é o dito de todos os homens mal entram em casa, como se só eles é que tivessem estômago e sofressem da necessidade de o encher, E se já traz marinheiros para a tripulação, que são uns ogres a comer, então é que não sei como nos iremos governar, disse a mulher da limpeza.
Não valia a pena ter-se preocupado tanto. O sol havia acabado de sumir-se no oceano quando o homem que tinha um barco surgiu no extremo do cais. Trazia um embrulho na mão, porém vinha sozinho e cabisbaixo. A mulher da limpeza foi esperá-lo à prancha, mas antes que ela abrisse a boca para se inteirar de como lhe tinha corrido o resto do dia, ele disse, Está descansada, trago aqui comida para os dois, E os marinheiros, perguntou ela, Não veio nenhum, como podes ver, Mas deixaste-os apalavrados, ao menos, tornou ela a perguntar, Disseram-me que já não há ilhas desconhecidas, e que, mesmo que as houvesse, não iriam eles tirar-se do sossego dos seus lares e da boa vida dos barcos de carreira para se meterem em aventuras oceânicas, à procura de um impossível, como se ainda estivéssemos no tempo do mar tenebroso, E tu, que lhes respondeste, Que o mar é sempre tenebroso, E não lhes falaste da ilha desconhecida, Como poderia falar-lhes eu duma ilha desconhecida, se não a conheço, Mas tens a certeza de que ela existe, Tanta como a de ser tenebroso o mar, Neste momento, visto daqui, com aquela água cor de jade e o céu como um incêndio, de tenebroso não lhe encontro nada, É uma ilusão tua, também as ilhas às vezes parece que flutuam sobre as águas, e não é verdade, Que pensas fazer, se te falta a tripulação, Ainda não sei, Podíamos ficar a viver aqui, eu oferecia-me para lavar os barcos que vêm à doca, e tu, E eu, Tens com certeza um mester, um ofício, uma profissão, como agora se diz, Tenho, tive, terei se for preciso, mas quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver, Não o sabes, Se não sais de ti, não chegas a saber quem és, O filósofo do rei, quando não tinha que fazer, ia sentar-se ao pé de mim, a ver-me passajar as peúgas dos pajens, e às vezes dava-lhe para filosofar, dizia que todo o homem é uma ilha, eu, como aquilo não era comigo, visto que sou mulher, não lhe dava importância, tu que achas, Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós, Se não saímos de nós próprios, queres tu dizer, Não é a mesma coisa. O incêndio do céu ia esmorecendo, a água arroxeou-se de repente, agora nem a mulher da limpeza duvidaria de que o mar é mesmo tenebroso, pelo menos a certas horas. Disse o homem, Deixemos as filosofias para o filósofo do rei, que para isso é que lhe pagam, agora vamos nós comer, mas a mulher não esteve de acordo, Primeiro, tens de ver o teu barco, só o conheces por fora, Que tal o encontraste, Há algumas bainhas das velas que estão a precisar de reforço, Desceste ao porão, encontraste água aberta, No fundo vê-se alguma, de mistura com o lastro, mas isso parece que é próprio, faz bem ao barco, Como foi que aprendeste essas coisas, Assim, Assim como, Como tu, quando disseste ao capitão do porto que aprenderias a navegar no mar, Ainda não estamos no mar, Mas já estamos na água, Sempre tive a idéia de que para a navegação só há dois mestres verdadeiros, um que é o mar, o outro que é o barco, E o céu, estás a esquecer-te do céu, Sim, claro, o céu, Os ventos, As nuvens, O céu, Sim, o céu.
Em menos de um quarto de hora tinham acabado a volta pelo barco, uma caravela, mesmo transformada, não dá para grandes passeios. É bonita, disse o homem, mas se eu não conseguir arranjar tripulantes suficientes para a manobra, terei de ir dizer ao rei que já não a quero, Perdes o ânimo logo à primeira contrariedade, A primeira contrariedade foi estar à espera do rei três dias, e não desisti, Se não encontrares marinheiros que queiram vir, cá nos arranjaremos os dois, Estás doida, duas pessoas sozinhas não seriam capazes de governar um barco destes, eu teria de estar sempre ao leme, e tu, nem vale a pena estar a explicar-te, é uma loucura, Depois veremos, agora vamos mas é comer. Subiram para o castelo de popa, o homem ainda a protestar contra o que chamara loucura, e, ali, a mulher da limpeza abriu o farnel que ele tinha trazido, um pão, queijo duro, de cabra, azeitonas, uma garrafa de vinho. A lua já estava meio palmo sobre o mar, as sombras da verga e do mastro grande vieram deitar-se-lhes aos pés. É realmente bonita a nossa caravela, disse a mulher, e emendou logo, A tua, a tua caravela, Desconfio que não o será por muito tempo, Navegues ou não navegues com ela, é tua, deu-ta o rei, Pedi-lha para ir procurar uma ilha desconhecida, Mas estas coisas não se fazem do pé para a mão, levam o seu tempo, já o meu avô dizia que quem vai ao mar avia-se em terra, e mais não era ele marinheiro, Sem tripulantes não poderemos navegar, Já o tinhas dito, E há que abastecer o barco das mil coisas necessárias a uma viagem como esta, que não se sabe aonde nos levará, Evidentemente, e depois teremos de esperar que seja a boa estação, e sair com a boa maré, e vir gente ao cais a desejar-nos boa viagem, Estás a rir-te de mim, Nunca me riria de quem me fez sair pela porta das decisões, Desculpa-me, E não tornarei a passar por ela, suceda o que suceder. O luar iluminava em cheio a cara da mulher da limpeza, É bonita, realmente é bonita, pensou o homem, que desta vez não estava a referir-se à caravela. A mulher, essa, não pensou nada, devia ter pensado tudo durante aqueles três dias, quando entreabria de vez em quando a porta para ver se aquele ainda continuava lá fora, à espera. Não sobrou migalha de pão ou de queijo, nem gota de vinho, os caroços das azeitonas foram atirados para a água, o chão está tão limpo como ficara quando a mulher da limpeza lhe passou por cima o último esfregão. A sereia de um paquete que saía para o mar soltou um ronco potente, como deviam ter sido os do leviatã, e a mulher disse, Quando for a nossa vez faremos menos barulho. Apesar de estarem no interior da doca, a água ondulou um pouco à passagem do paquete, e o homem disse, Mas baloiçaremos muito mais. Riram os dois, depois ficaram calados, passado um bocado um deles opinou que o melhor seria irem dormir, Não é que eu tenha muito sono, e o outro concordou, Nem eu, depois calaram-se outra vez, a lua subiu e continuou a subir, em certa altura a mulher disse, Há beliches lá em baixo, o homem disse, Sim, e foi então que se levantaram, que desceram à coberta, aí a mulher disse, Até amanhã, eu vou para este lado, e o homem respondeu, E eu vou para este, até amanhã, não disseram bombordo nem estibordo, decerto por estarem ainda a praticar na arte. A mulher voltou atrás, Tinha-me esquecido, tirou do bolso do avental dois cotos de vela, Encontrei-os quando andava a limpar, o que não tenho é fósforos, Eu tenho, disse o homem. Ela segurou as velas, uma em cada mão, ele acendeu um fósforo, depois, abrigando a chama sob a cúpula dos dedos curvados, levou-a com todo o cuidado aos velhos pavios, a luz pegou, cresceu lentamente como faz o luar, banhou a cara da mulher da limpeza, nem seria preciso dizer o que ele pensou, É bonita, mas o que ela pensou, sim, Vê-se bem que só tem olhos para a ilha desconhecida, aqui está como as pessoas se enganam nos sentidos do olhar, sobretudo ao princípio. Ela entregou-lhe uma vela, disse, Até amanhã, dorme bem, ele quis dizer o mesmo doutra maneira, Que tenhas sonhos felizes, foi a frase que lhe saiu, daqui a pouco, quando lá estiver em baixo, deitado no seu beliche, vir-lhe-ão à ideia outras frases, mais espirituosas, sobretudo mais insinuantes, como se espera que sejam as de um homem quando está a sós com uma mulher. Perguntava-se se já dormiria, se teria tardado a entrar no sono, depois imaginou que andava à procura dela e não a encontrava em nenhum sítio, que estavam perdidos os dois num barco enorme, o sonho é um prestidigitador hábil, muda as proporções das coisas e as suas distâncias, separa ás pessoas, e elas estão juntas, reúne-as, e quase não se vêem uma à outra, a mulher dorme a poucos metros e ele não soube como alcançá-la, quando é tão fácil ir de bombordo a estibordo.
Tinha-lhe desejado felizes sonhos, mas foi ele quem levou toda a noite a sonhar. Sonhou que a sua caravela ia no mar alto, com as três velas triangulares gloriosamente enfunadas, abrindo caminho sobre as ondas, enquanto ele manejava a roda do leme e a tripulação descansava à sombra. Não percebia como podiam ali estar os marinheiros que no porto e na cidade se tinham recusado a embarcar com ele para ir à procura da ilha desconhecida, provavelmente arrependeram-se da grosseira ironia com que o haviam tratado. Via animais espalhados pela coberta, patos, coelhos, galinhas, o habitual da criação doméstica, debicando os grãos de milho ou roendo as folhas de couve que um marinheiro lhes atirava, não se lembrava de quando os tinha trazido para o barco, fosse como fosse era natural que ali estivessem, imaginemos que a ilha desconhecida é, como tantas vezes o foi no passado, uma ilha deserta, o melhor será jogar pelo seguro, todos sabemos que abrir a porta da coelheira e agarrar um coelho pelas orelhas sempre foi mais fácil do que persegui-lo por montes e vales. Do fundo do porão veio agora um coro de relinchos de cavalos, de mugidos de bois, de zurros de asnos, as vozes dos nobres animais necessários para o trabalho pesado, e como foi que vieram eles, como podem estar numa caravela onde a tripulação humana mal cabe, de súbito o vento deu uma guinada, a vela maior bateu e ondulou, por trás dela estava o que antes não se vira, um grupo de mulheres que mesmo sem as contar se adivinha serem tantas quantos os marinheiros, ocupam-se nas suas coisas de mulheres, ainda não chegou o tempo de se ocuparem doutras, está claro que isto só pode ser um sonho, na vida real nunca se viajou assim. O homem do leme buscou com os olhos a mulher da limpeza e não a viu, Talvez esteja no beliche de estibordo, a descansar da lavagem da coberta, pensou, mas foi um pensar fingido, porque ele bem sabe, embora também não saiba como o sabe, que ela à última hora não quis vir, que saltou para o cais, dizendo de lá, Adeus, adeus, já que só tens olhos para a ilha desconhecida, vou-me embora, e não era verdade, agora mesmo andam os olhos dele a procurá-la e não a encontram. Neste momento o céu cobriu-se e começou a chover, e, tendo chovido, principiaram a brotar inúmeras plantas das fileiras de sacos de terra alinhadas ao longo da amurada, não estão ali porque se suspeite que não haja terra bastante na ilha desconhecida, mas porque assim se ganhará tempo, no dia em que lá chegarmos só teremos que transplantar as árvores de fruto, semear os grãos das pequenas searas que vão amadurecer aqui, enfeitar os canteiros com as flores que desabrocharão destes botões. O homem do leme pergunta aos marinheiros que descansam na coberta se avistam alguma ilha desabitada, e eles respondem que não vêem nem de umas nem das outras, mas que estão a pensar em desembarcar na primeira terra povoada que lhes apareça, desde que haja lá um porto onde fundear, uma taberna onde beber e uma cama onde folgar, que aqui não se pode, com toda esta gente junta. E a ilha desconhecida, perguntou o homem do leme, A ilha desconhecida é coisa que não existe, não passa duma ideia da tua cabeça, os geógrafos do rei foram ver nos mapas e declararam que ilhas por conhecer é coisa que se acabou desde há muito tempo, Devíeis ter ficado na cidade, em lugar de vir atrapalhar-me a navegação, Andávamos à procura de um sítio melhor para viver e resolvemos aproveitar a tua viagem, Não sois marinheiros, Nunca o fomos, Sozinho, não serei capaz de governar o barco, Pensasses nisso antes de ir pedi-lo ao rei, o mar não ensina a navegar. Então o homem do leme viu uma terra ao longe e quis passar adiante, fazer de conta que ela era a miragem de uma outra terra, uma imagem que tivesse vindo do outro lado do mundo pelo espaço, mas os homens que nunca haviam sido marinheiros protestaram, disseram que ali mesmo é que queriam desembarcar, Esta é uma ilha do mapa, gritaram, matar-te-emos se não nos levares lá. Então, por si mesma, a caravela virou a proa em direcção à terra, entrou no porto e foi encostar à muralha da doca, Podeis ir-vos, disse o homem do leme, acto contínuo saíram em correnteza, primeiro as mulheres, depois os homens, mas não foram sozinhos, levaram com eles os patos, os coelhos e as galinhas, levaram os bois, os burros e os cavalos, e até as gaivotas, uma após outra, levantaram voo e se foram do barco transportando no bico os seus gaivotinhos, proeza que não tinha sido cometida antes, mas há sempre uma vez. O homem do leme assistiu à debandada em silêncio, não fez nada para reter os que o abandonavam, ao menos tinham-no deixado com as árvores, os trigos e as flores, com as trepadeiras que se enrolavam nos mastros e pendiam da amurada como festões. Por causa do atropelo da saída haviam-se rompido e derramado os sacos de terra, de modo que a coberta era toda ela como um campo lavrado e semeado, só falta que venha um pouco mais de chuva para que seja um bom ano agrícola. Desde que a viagem à ilha desconhecida começou que não se vê o homem do leme comer, deve ser porque está a sonhar, apenas a sonhar, e se no sonho lhe apetecesse um pedaço de pão ou uma maçã, seria um puro invento, nada mais. As raízes das árvores já estão penetrando no cavername, não tarda que estas velas içadas deixem de ser precisas, bastará que o vento sopre nas copas e vá encaminhando a caravela ao seu destino. É uma floresta que navega e se balanceia sobre as ondas, uma floresta onde, sem saber-se como, começaram a cantar pássaros, deviam estar escondidos por aí e de repente decidiram sair à luz, talvez porque a seara já esteja madura e é preciso ceifá-la. Então o homem trancou a roda do leme e desceu ao campo com a foice na mão, e foi quando tinha cortado as primeiras espigas que viu uma sombra ao lado da sua sombra. Acordou abraçado à mulher da limpeza, e ela a ele, confundidos os corpos, confundidos os beliches, que não se sabe se este é o de bombordo ou o de estibordo. Depois, mal o sol acabou de nascer, o homem e a mulher foram pintar na proa do barco, de um lado e do outro, em letras brancas, o nome que ainda faltava dar à caravela. Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma.
José Saramago nasceu em 1922 na aldeia de Azinhaga (Golegã). Fez estudos secundários que, por dificuldades econômicas, não pôde prosseguir. Seu primeiro emprego foi o de serralheiro mecânico, tendo exercido depois, diversas outras profissões: desenhista, funcionário de saúde e de previdência social, editor, tradutor, jornalista.
Publicou o seu primeiro livro, um romance, em 1947. Colaborou como crítico literário na revista "Seara Nova". Em 1972 e 1973 fez parte da redação do jornal "Diário de Lisboa". Pertenceu à primeira direção da Associação Portuguesa de Escritores e foi, desde 1985 a 1994, presidente da Assembléia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi diretor-adjunto do jornal "Diário de Notícias". A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor.
É Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Turim (Itália), de Sevilha (Espanha) e de Manchester (Reino Unido); membro Honoris Causa do Conselho do Instituto de Filosofia do Direito e de Estudos Histórico-Políticos da Universidade de Pisa (Itália); membro da Academia Universal das Culturas (Paris); membro correspondente da Academia Argentina das Letras; membro do Parlamento Internacional de Escritores (Estrasburgo).
José Saramago foi laureado com o Prêmio Nobel da Literatura 1998 pela The Nobel Foundation
PIADA
TRANSA DE TURCO!! |
Salim e Samira chegam ao consultório de um terapeuta sexual. O médico pergunta:- O que posso fazer por vocês? O Salim responde:- O senior, bur vavor, bode ver nois transando? O médico olha espantado, mas concorda. Quando a transa termina, o médico diz: -Não há nada de errado na maneira como vocês fazem sexo. E então o médico cobra R$ 70,00 pela consulta. Isto se repete por várias semanas! O casal marca horário, faz sexo sem nenhum problema, paga o médico e deixa o consultório. Finalmente o médico resolve perguntar: - O que vocês estão tentando descobrir? E Salim responde: - Nada. A broblema é que Zamira é casada e Salim não bode ir no casa dela. Eu também sou casado e Zamira não bode ir casa de Salim. Na Play Love Motel, um quarto custa R$ 140,00. Na Fujiama Motel custa R$ 160,00. Aqui nós transa por R$ 70,00, com acompanhamento médico, tem um atestado e recibo, Salim reembolsa R$ 42,00 bêla UNIMED e ainda tem uma restituição da IR de R$ 19,20. Tudo calculado, eu só gasta R$ 8,80. |
SEXUALIDADE E TRANSGRESSÃO
Religião e Sexualidade
Na últimas férias, enquanto lia "O Conceito de Angústia", de Sören Kierkegaard, escrito em 1844, deparei-me com uma simples e brilhante denúncia:
SEXUALIDADE E TRANSGRESSÃO
Sexualidade: o prazer que liberta
A imaturidade e a insegurança não dão lugar ao pluralismo. O temor dos instintos e sentimentos conduz a normatização do erótico, a um legalismo irracional, anticientífico e patogênico. Evangélicos mais lúcidos se calam e se acomodam para melhor sobreviver. Outros reproduzem o discurso tradicional para garantir a carreira e a aceitação diante de um rígido e impiedoso controle social. Todos fiscalizam todos e se enquadram mutuamente. O processo é alimentado teologicamente pelas centrais do poder religioso conservador do Primeiro Mundo. Entre os protestantes liberais o quadro não é mais animador. Também teríamos dois grupos: a) o majoritário, constituído pelos que são “liberais” em tudo e “puritanos” quanto à sexualidade. Em quase nada se diferenciam de seus irmãos fundamentalistas. Liberais na cátedra e reacionários na vida; e b) o minoritário, formado pelos eternos vanguardistas, miméticos das vanguardas do Primeiro Mundo e que optam pela via mais fácil do relativismo.
Com relação à Teologia da Libertação, o reducionismo econômico e político impediram a reflexão e a práxis abrangente que incluísse a libertação do erótico, muito menos a percepção de Reich, em que o erótico libertador é o próprio veículo da libertação sadia, econômica, política e cultural. Nem Marcuse foi levado a sério. Honrosas exceções protestantes: Jaci Maraschin defende uma teologia do corpo; e Rubem Alves denuncia a semelhança reacionária entre o ascetismo religioso e o ascetismo político, que impedem um discurso sobre o prazer.
Robinson Cavalcanti
SEXUALIDADE E TRANSGRESSÃO
Uma breve conversa sobre sexo
quinta-feira, 17 de junho de 2010
SEXUALIDADE, AMOR E TRANSGRESSÃO
- Informações Técnicas
Título no Brasil: Ressaca de Amor
Título Original: Forgetting Sarah Marshall
País de Origem: EUA
Gênero: Comédia / Romance
Classificação etária: 16 anos
Tempo de Duração: 112 minutos
Ano de Lançamento: 2008
Site Oficial: http://www.forgettingsarahmarshall. com
Estúdio/Distrib.: Universal Pictures
Direção: Nicholas Stoller - Elenco
Jason Segel ... Peter Bretter
Kristen Bell ... Sarah Marshall - Mila Kunis ... Rachel Jansen
Russell Brand ... Aldous Snow
Bill Hader ... Brian Bretter
Liz Cackowski ... Liz Bretter
Maria Thayer ... Wyoma
Jack McBrayer ... Darald
Taylor Wily ... Kemo
Davon McDonald ... Dwayne the Bartender
Steve Landesberg ... Dr. Rosenbaum
Jonah Hill ... Matthew the Waiter
Paul Rudd ... Chuck
Kala Alexander ... Greg
Kalani Robb ... Helpful Hawaiian Waiter
ARTE E SEXUALIDADE: direito de todos
Géssica Hellmann
Neste artigo abordo a orientação sobre a sexualidade de crianças e adolescentes especiais, como, por exemplo, portadores de Síndrome de Down e Cadeirantes. Sabemos que a sexualidade em si já é encarada com certo preconceito. Falar sobre ela já gera polêmica, imagine abordar este assunto no contexto de pessoas especiais.
Segundo Trabbold (2006) “Por medo de expor o adolescente a riscos físicos e emocionais, muitos pais negam a existência do problema e preferem encarar o filho como um “anjo assexuado”. Por outro lado, os profissionais das instituições especializadas tendem a rotulá-los como pessoas hipersexualizadas, que não têm autocontrole”.
Segundo a autora, uma pesquisa feita pelo psicólogo Hugues Costa da França Ribeiro, comprovou o que sua experiência de dez anos na área já havia lhe ensinado: que eles têm desejo sexual, anseiam por uma relação afetiva e que são capazes de aprender a lidar com sua própria sexualidade.
Para Gejer (2006) “O deficiente mental, como qualquer outro indivíduo, tem necessidade de expressar seus sentimentos de modo próprio e intransferível. A repressão da sexualidade, nestes indivíduos, pode alterar seu equilíbrio interno, diminuindo as possibilidades de se tornar um ser psiquicamente integral. Por outro lado, quando bem encaminhada, a sexualidade melhora o desenvolvimento afetivo, facilitando a capacidade de se relacionar, melhorando a auto-estima e a adequação à sociedade”.
“Uma pessoa com deficiência mental leve ou moderada pode compreender e adquirir parâmetros para discernir o que é adequado ou não, o que é privado ou público, quem tem permissão de tocar em suas partes íntimas e ainda entender as conseqüências do ato sexual, como a gravidez e o contágio de doenças sexualmente transmissíveis … A sexualidade é um fator importante para o desenvolvimento da personalidade de qualquer indivíduo, algo que não pode ser negado ou sublimado” afirma Ribeiro. (Trabbold, 2006)
A autora continua “Isolados em suas casas, em instituições especializadas, o deficiente geralmente é afastado do contato com outros grupos sociais”. Este “círculo” de proteção pode também restringir a evolução do indivíduo.
Existem controvérsias entre a escolha de uma Instituição Educacional Especializada e a inclusão em Escolas Normais. Qual delas é melhor para o desenvolvimento da criança e adolescente? Qual delas vai facilitar o desenvolvimento da independência, da socialização? Teoricamente a sociabilização do individuo especial com outros considerados “normais” facilita a inclusão. E quanto ao preconceito? Pode haver rejeição? Como lidar com isso?
A informação, o diálogo é extremamente importante para o desenvolvimento da sexualidade da criança e do adolescente.
“A omissão do tema em casa, na escola ou no consultório médico gera desinformação e preconceito. Muita gente prefere acreditar, por exemplo, que eles não sejam capazes de compreender os cuidados necessários para o sexo seguro. Por isso, o tema não deve ser tratado apenas nas entrelinhas. É preciso fornecer informações claras e precisas para que sejam assimiladas”. (Belisário, 2006)
É importante lembrar que a sexualidade faz parte da natureza humana. É preciso lembrar que a sexualidade vai além do ato sexual.
“Apesar das diferenças entre os deficientes, quase todos são capazes de aprender a desenvolver algum nível de habilidade social e conhecimento sexual. Isso pode incluir habilidade para diferenciar comportamento apropriado e não apropriado e para desenvolver um senso de responsabilidade de cuidados pessoais e relacionamento com os outros”. (Gejer, 2006).
A autora afirma que:
- Jovens com deficiência são sexualmente ativos;
- As aspirações sociais e sexuais de pessoas especiais não são diferentes dos seus pares;
- Estudos demonstram que problemas físicos e mentais têm menor influência sobre a expressão sexual do deficiente do que sua integração social;
- Pais de adolescentes com deficiência devem se unir com outros educadores para proporcionar uma boa educação sexual para seus filhos;
“O desejo e as descobertas da sexualidade são sinais de saúde. Mas quando o adolescente com deficiência começa a sair, conhecer pessoas, namorar e buscar uma vida sexual ativa, a família perde o controle sobre suas atividades, o que pode gerar medo de que ele seja rejeitado ou até mesmo abusado sexualmente. Com o intuito de proteger os filhos com deficiência, os pais costumam tratá-los como eternas crianças, negando assim o seu direito à sexualidade. Para acabar com medos, os processos de inclusão na escola e na comunidade são estratégias fundamentais”. (Belisário, 2006)
A arte é uma das atividades recomendadas pelos educadores como alternativa para o desenvolvimento da sexualidade das pessoas especiais. Tanto a arte como a sexualidade são prazerosas para o indivíduo.
Rocha (2006) diz que a Declaração Universal dos Direitos Humanos é inegavelmente um marco de referência para o posicionamento do ser humano no Mundo, na sua dimensão individual e social, destacando-se os princípios consignados na Declaração as “Normas sobre a Igualdade de Oportunidades para as Pessoas com Deficiência” (Nações Unidas, 1994).
O autor afirma que a conscientização acerca do que é qualidade de vida das pessoas com deficiência mental torna-se fundamental em áreas determinantes como: interação e relações sociais; bem-estar psicoafetivo e autonomia e poder de decisão. Contudo, não faz qualquer sentido falarmos destas dimensões da qualidade de vida da pessoa portadora de deficiência mental quando, ao mesmo tempo, se lhe é vedado o direito à sua sexualidade. “A pessoa portadora de deficiência mental deve aprender desde logo a reconhecer a sua individualidade, compreender o comportamento social e o seu comportamento como membro de uma sociedade, conhecer a sua própria vulnerabilidade e, essencialmente, saber escolher, decidir e desenvolver a sua própria sexualidade”.
A sexualidade faz parte do indivíduo, não se pode negar à pessoa especialal a liberdade de viver e expressar a sua sexualidade. Ela pode ser entendida também como expressão da afetividade, construção da auto-estima e do bem-estar.
Pais e educadores, entretanto, negociam suas representações com a realidade da vida na instituição e da vida familiar, produzindo “regulações” da sexualidade, em especial aquelas ligadas à contracepção (Venâncio, 2006).
Além das pessoas com deficiência mental, outras que sofrem preconceitos quanto a sua sexualidade são os cadeirantes. Principalmente porque “esbarram” em fatores culturais quanto à função social masculina e feminina.
“A despeito das mudanças que se processam quanto à função social da mulher hoje, principalmente a partir do seu engajamento no mercado de trabalho e, decorrente, de seu papel mais participativo em termos de eqüidade com o homem no seio da família, permanecem ainda resquícios da sociedade patriarcal e autoritária da sociedade fálica”. (Salimene, 2006)
A autora continua “Esses valores atingem de modo severo os portadores de deficiência física (em conseqüência de danos neurológicos). Estes, a despeito das disfunções sexuais presentes em diferentes níveis, quanto à ereção, ejaculação, orgasmo e reprodução, mantêm a sua sexualidade latente, quando entendida no seu conceito ampliado”.
“A ereção é resultado do enchimento dos corpos cavernosos do pênis por sangue. Como a conexão com o cérebro está prejudicada (pela lesão medular), a ereção psicogênica (pensar em algo que lhe de tesão) não ocorrerá. A ereção ocorrerá por mecanismos reflexos, ou seja, pela manipulação do pênis. Então, você poderá recorrer a métodos físicos, como colocar um anel na base do pênis para preservar a ereção por tempo mais prolongado. Com isto, você estará retendo o sangue nos corpos cavernosos. Os métodos químicos, que consistem em injeção na base do pênis ou introdução pela uretra de determinadas substâncias (prostaglandina), deverá ter o seu uso controlado por indicação médica para evitar efeitos colaterais indesejáveis. A solução definitiva mais comum é a colocação de uma prótese, feita de um material flexível, ficando o pênis sempre em estado de semi-ereção. Uma outra prótese, seria formada por tubos colocados no local dos corpos cavernosos. Estes tubos estariam em contato com uma bolsa cheia de líquido, que quando pressionada os encheria. Este líquido preenchendo os tubos agiria como se fosse o sangue preenchendo os corpos cavernosos, provocando a ereção”. (Moraes, 2006)
“É necessário que se incorporem ações terapêuticas voltadas para a reabilitação sexual dessas pessoas para ajudá-las a superar suas dificuldades. Assim buscamos caminhos para que possam exercitar sua sexualidade o mais plenamente possível, com a obtenção do prazer físico e psíquico, fatores contribuintes para sua reintegração social saudável”. (Salimene, 2006)
Ao aceitar o seu corpo lesado e, por incrível que possa parecer para alguns, até curti-lo, você estará pronto para que outras pessoas possam também aceitá-lo com suas limitações. Cito como exemplo a entrevista concedida ao Géh na primeira edição de sexualidade: “Costumo dizer que o sexo com os cadeirantes é muito mais parecido do que diferente do “tradicional”.As pessoas imaginam que é complexo, muito diferente, ou até mesmo que somos assexuados. Claro que cada caso é um caso. Falo de mim e do que sei dos meus amigos. Fazer sexo é sempre bom. Sinto o mesmo desejo de antes e as sensações são até mais intensas. A principal diferença é um trabalho maior do parceiro, que vai me ajudar com as posições…” afirma Juliana Oliveira, tetraplégica.
Se você não sente metade do seu corpo, você descobrirá sozinho ou junto com seu parceiro que seu corpo é uma fonte de prazer e que ao estimular outras partes sensíveis, como a boca, a orelha, o peito e as costas você poderá estar descobrindo a sua nova sexualidade. (Moraes, 2006)
Ao compreendermos que a sexualidade é mais complexa que o ato sexual, é carinho, é sentimento, é sensações, é tudo que proporciona bem estar e prazer ao indivíduo. Desta forma é possível quebrar tabus e viver plenamente a sexualidade. Este conceito é válido para todas as pessoas, especiais ou não.
Bibliografia
Belisário Filho, José Ferreira. Sexualidade e Deficiência: superando preconceitos. Disponível em: http://www.andi.org.br/noticias/templates/boletins/template_pontoj.asp?articleid=2933&zoneid=23. Acessado em: 24/11/2006.
Gejer, Débora. O adolescente com deficiência mental e sua sexualidade. Disponível em: http://www.entreamigos.com.br/textos/sexualid/oadole.htm. Acessado em: 24/11/2006.
Morais, José Carlos. Conversando sobre sexo. Disponível em: http://www.entreamigos.com.br/textos/sexualid/sexo.html. Acessado em: 24/11/2006.
Rocha, Jorge. Viver a sexualidade é um direito de todos. Disponível em: http://www.malhatlantica.pt/ecae-cm/sexualidade1.htm. Acessado em: 24/11/2006.
Salimene , Arlete Camargo de Melo. A Sexualidade da pessoa com deficiência física. Disponível em: http://www.entreamigos.com.br/textos/sexualid/sexpede.htm. Acessado em: 24/11/2006.
Trabbold, Ângela. Sexo dos Anjos. Disponível em: http://www.entreamigos.com.br/textos/sexualid/sexanjo.htm. Acessado em: 24/11/2006.
Venâncio, Ana Teresa A. Representações sociais da diferença: sexualidade e deficiência mental. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312006000100008&lng=es&nrm=&tlng=pt. Acessado em: 24/11/2006.
Wednesday, December 10th, 2008, by Géssica Hellmann and is filed under "sexualidade, edições 71 a 75, pessoas portadoras de deficiências, pessoas portadoras de necessidades especiais, sexualidade". You can leave a response here, or send a Trackback from your own site.
http://gehspace.com/sexualidade/2008/12/10/sexualidade-x-pessoas-especiais/
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Ler: Prazer e Saber
Ler: prazer e saber
Muitas são as questões e os entraves que envolvem a formação do hábito da leitura, especialmente por prazer e não como obrigação. Entre estes, podemos destacar as políticas públicas vigentes que não oferecem, a contento, as devidas condições às famílias, às Escolas, ao público
Oferecendo, de fato e de direito, possibilidades das pessoas tornarem-se, ou não, leitoras, dependendo de suas vontades (O direito de não ler, Daniel Pennac, “Como um Romance”, 1997). Em, 'Como um romance' Pennac questiona, através da recriação ficcional do ambiente de uma sala de aula, a razão de os jovens não gostarem de ler. Baseado em suas próprias experiências como professor, ele ensina como recuperar nos alunos o gosto pela leitura. Acima de tudo, Pennac quer mostrar que o ato de ler é um ato de prazer e não de obrigação.
Neste sentido, o INSTITUTO ALPARGATAS – IA e o INSTITUTO CAMARGO CORRÊA – ICC têm contribuído satisfatoriamente para minimizar as questões preliminares que outrora foram citadas. O IA, em parceria com o ICC, citados, doaram às Unidades Escolares Municipais de Campina Grande e de outros municípios do Estado da Paraíba, uma Biblioteca Móvel (Baú Móvel), com um acervo considerável de livros, que vai desde a literatura infantil ate os livros mais clássicos, diminuindo, com esta ação, vários problemas como; convívio com obras literárias, valorização social da leitura pelos grupos sociais ligados às Unidades Escolares, espaço, tempo, acervo, etc. Ainda estão oferecendo, através do CENPEC( CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISA EM EDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIA ).
Com estas perspectivas e conscientes da importância do ato de ler por prazer, nós, educadores destas Unidades de Serviços Educacionais, deveremos estar atentos ao desenvolvimento e fortalecimento de ações que conduzam nossos alunos e todos que estão envolvidos, direta ou indiretamente, às Escolas, que já são leitores a potencializarem este hábito, mas também dar total atenção àqueles que não adentraram neste universo maravilhoso.
Para tanto será preciso que não nos tornemos ilhas, isolados em nossas práticas, restritas as Escolas, mas que convidemos todos a participarem do processo.
Em observações, como supervisora pedagógica de algumas destas Unidades Escolares, através de questionamentos informais, em momentos de formações e em outros momentos, deduzimos que o prazer de ler, ou mesmo o desejo de ler para informar-se ou manter-se atualizado parece não fazer parte da rotina dos Educadores, de um modo geral.
Os professores, por exemplo, lêem mais para se melhorarem como profissionais, para preparar seus planejamentos e para aumentar a fé (através da bíblia ou textos cristãos), ou, ainda, para buscar a auto-ajuda e melhorar a auto-estima. Um ou outro ler por fruição.
Também em observações, mas agora em sala de aula, percebe-se que as Rodas de leituras são realizadas, mas o gênero textual mais utilizado é a fábula, transparecendo um desejo de que os alunos entendam os julgamentos morais peculiares a este gênero textual. E, na grande maioria, são os professores que realizam as leituras, escolhidas, aleatoriamente, sem um planejamento prévio.
Entendemos que cabe ao professor, entre outras atividades, ler diariamente para seus alunos, com o objetivo de formar leitores, como uma função meta cognitiva. Sem pedir ou exigir. O desejo de ler deve ser estimulado pela observação diária da conduta prazerosa do (a) educador (a) e dos alunos ou outros leitores potenciais, no ato de ler para o outro ou para si mesmo, silenciosamente. Se constituindo, portanto, a Roda de Leitura, numa estratégia, mas também num conteúdo atitudinal (este tipo de conteúdo pode agrupar-se em valores, atitudes ou normas, cooperação, solidariedade, trabalho em grupo, gosto pela leitura, respeito, ética, etc.).
Vale ainda salientar que, tanto como estratégia, quanto como conteúdo, o ler para o outro deverá estar impregnado de afeto, de boas bases de convivência. O que, de forma alguma, deve ser desconsiderado pela escola. Neste sentido quem ler deverá gostar do que estar fazendo e sentir prazer no que estar fazendo e para quem estar fazendo.
Por isto, é preciso estimular os alunos a também lerem em voz alta, textos diversos, não em eventos pontuais, mas rotineiramente e pelo prazer de ler para outros e para seus próprios deleites.
Outros aspectos foram observados: O não uso de estratégias próprias da Roda de Leitura, como o aquecimento ou situações motivacionais e os desdobramentos, ampliação do texto.
Verificam-se, também, cobranças pela interpretação do texto. Não se estimula o empréstimo de livros e nem tampouco se incentiva os alunos a também serem os atores ativos do processo, ou seja, a lerem para os outros, com uma preparação prévia, é óbvio. Isto só ocorre quando se avalia o processo de aquisição da leitura ou em festividades na Escola, quando os alunos se apresentam em dramatizações, recitam etc.
Verificam-se, ainda, uma outra dificuldade entre os profissionais que se constituem Educadores observados: a não diferenciação entre ler em voz alta e contar histórias. Ler, entre outras funções, conduz o leitor e o ouvinte, sujeitos do processo, a se apropriarem da linguagem escrita, das formas de escrever, dos recursos lingüísticos e/ou gráficos que os autores utilizam para enriquecer o texto. A pessoa que ler muito, quando conta histórias fala de um modo mais aproximado às estruturas da escrita, sem muitas repetições, sem abuso de conectivos informais, a exemplo do “ai”, e se apropria, muito mais, de uma enorme diversidade de estruturas como disposição gráfica e outros elementos dos muitos gêneros textuais: versos, rimas, prosa, descrição, narração, diálogos, discursos indiretos, exposição de idéias. Enquanto que o contar história traduz muito mais a magia do leitor no ato de viver o texto, pois pode ser mais enriquecido com gestos, falas, onomatopéias, trejeitos, etc. Alem das possibilidades de interação do (a) autor (a) com o (a) contador (a), do (a) contador (a) com os ouvintes, dos acréscimos ou supressões de expressões que o (a) contador (a) pode realizar no texto contado e não no texto lido.
Entretanto, todos os problemas citados, até então, já estão sendo minimizados, face às formações que estão acontecendo, com vistas à boa utilização das Bibliotecas Móveis, doadas pelo IA e pelo ICC, via CENPEC, como ação de um Projeto dos referidos Institutos, intitulado “Ler: prazer e saber”, que tem como meta principal disseminar o prazer de ler, ou melhor, formar Educadores/alunos leitores.
Resta-nos prever Orientações, nas outras formações previstas, visando diminuir outros problemas, também observáveis:
1. Outras estratégias de motivação, inclusive para os educadores:
· Leitura e declamações de Poesias;
· Festivais literários;
· Jograis;
· Exposições de versos ilustrados;
· Concursos literários;
· Elaboração de livros;
· Feira de livros;
· Pesquisas acerca de escritores;
· Conversa com escritores;
· Leituras compartilhadas;
· Vídeos sobre livros;
· Concertos de Leitura;
· Contação de histórias, com e sem recursos;
· Ler para idosos, cegos, etc.
· Etc.
2. Outros procedimentos pedagógicos que levam à formação do leitor;
3. Procedimentos de valorização da leitura de livros, como contra ponto as mídias atuais, especialmente a internet;
4. Melhoria das estratégias de desenvolvimento das habilidades de leitura das crianças haja vistas que a grande maioria não sabe ler (aquisição do código escrito);
5. Trabalhos com os livros de literatura do acervo doado;
6. Estratégias divertidas para se levar os alunos a conhecerem as partes dos livros e a amá-los;
7. Restauração e conservação de livros;
8. Atividades para o desenvolvimento da atenção, especialmente para alunos com problemas quanto a este aspecto, e àqueles que ainda não estão acostumados aos livros, bem como os alunos considerados especiais, com deficiências físicas e/ou mentais;
9. Estratégias próprias para o trabalho de formação do leitor adolescente;
10. Estratégias para compreensão de textos mais complexos, ou seja, que trabalhem habilidades mentais mais elaboradas.
Ana Lúcia de S. Silva