Ler: prazer e saber
Muitas são as questões e os entraves que envolvem a formação do hábito da leitura, especialmente por prazer e não como obrigação. Entre estes, podemos destacar as políticas públicas vigentes que não oferecem, a contento, as devidas condições às famílias, às Escolas, ao público
Oferecendo, de fato e de direito, possibilidades das pessoas tornarem-se, ou não, leitoras, dependendo de suas vontades (O direito de não ler, Daniel Pennac, “Como um Romance”, 1997). Em, 'Como um romance' Pennac questiona, através da recriação ficcional do ambiente de uma sala de aula, a razão de os jovens não gostarem de ler. Baseado em suas próprias experiências como professor, ele ensina como recuperar nos alunos o gosto pela leitura. Acima de tudo, Pennac quer mostrar que o ato de ler é um ato de prazer e não de obrigação.
Neste sentido, o INSTITUTO ALPARGATAS – IA e o INSTITUTO CAMARGO CORRÊA – ICC têm contribuído satisfatoriamente para minimizar as questões preliminares que outrora foram citadas. O IA, em parceria com o ICC, citados, doaram às Unidades Escolares Municipais de Campina Grande e de outros municípios do Estado da Paraíba, uma Biblioteca Móvel (Baú Móvel), com um acervo considerável de livros, que vai desde a literatura infantil ate os livros mais clássicos, diminuindo, com esta ação, vários problemas como; convívio com obras literárias, valorização social da leitura pelos grupos sociais ligados às Unidades Escolares, espaço, tempo, acervo, etc. Ainda estão oferecendo, através do CENPEC( CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISA EM EDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIA ).
Com estas perspectivas e conscientes da importância do ato de ler por prazer, nós, educadores destas Unidades de Serviços Educacionais, deveremos estar atentos ao desenvolvimento e fortalecimento de ações que conduzam nossos alunos e todos que estão envolvidos, direta ou indiretamente, às Escolas, que já são leitores a potencializarem este hábito, mas também dar total atenção àqueles que não adentraram neste universo maravilhoso.
Para tanto será preciso que não nos tornemos ilhas, isolados em nossas práticas, restritas as Escolas, mas que convidemos todos a participarem do processo.
Em observações, como supervisora pedagógica de algumas destas Unidades Escolares, através de questionamentos informais, em momentos de formações e em outros momentos, deduzimos que o prazer de ler, ou mesmo o desejo de ler para informar-se ou manter-se atualizado parece não fazer parte da rotina dos Educadores, de um modo geral.
Os professores, por exemplo, lêem mais para se melhorarem como profissionais, para preparar seus planejamentos e para aumentar a fé (através da bíblia ou textos cristãos), ou, ainda, para buscar a auto-ajuda e melhorar a auto-estima. Um ou outro ler por fruição.
Também em observações, mas agora em sala de aula, percebe-se que as Rodas de leituras são realizadas, mas o gênero textual mais utilizado é a fábula, transparecendo um desejo de que os alunos entendam os julgamentos morais peculiares a este gênero textual. E, na grande maioria, são os professores que realizam as leituras, escolhidas, aleatoriamente, sem um planejamento prévio.
Entendemos que cabe ao professor, entre outras atividades, ler diariamente para seus alunos, com o objetivo de formar leitores, como uma função meta cognitiva. Sem pedir ou exigir. O desejo de ler deve ser estimulado pela observação diária da conduta prazerosa do (a) educador (a) e dos alunos ou outros leitores potenciais, no ato de ler para o outro ou para si mesmo, silenciosamente. Se constituindo, portanto, a Roda de Leitura, numa estratégia, mas também num conteúdo atitudinal (este tipo de conteúdo pode agrupar-se em valores, atitudes ou normas, cooperação, solidariedade, trabalho em grupo, gosto pela leitura, respeito, ética, etc.).
Vale ainda salientar que, tanto como estratégia, quanto como conteúdo, o ler para o outro deverá estar impregnado de afeto, de boas bases de convivência. O que, de forma alguma, deve ser desconsiderado pela escola. Neste sentido quem ler deverá gostar do que estar fazendo e sentir prazer no que estar fazendo e para quem estar fazendo.
Por isto, é preciso estimular os alunos a também lerem em voz alta, textos diversos, não em eventos pontuais, mas rotineiramente e pelo prazer de ler para outros e para seus próprios deleites.
Outros aspectos foram observados: O não uso de estratégias próprias da Roda de Leitura, como o aquecimento ou situações motivacionais e os desdobramentos, ampliação do texto.
Verificam-se, também, cobranças pela interpretação do texto. Não se estimula o empréstimo de livros e nem tampouco se incentiva os alunos a também serem os atores ativos do processo, ou seja, a lerem para os outros, com uma preparação prévia, é óbvio. Isto só ocorre quando se avalia o processo de aquisição da leitura ou em festividades na Escola, quando os alunos se apresentam em dramatizações, recitam etc.
Verificam-se, ainda, uma outra dificuldade entre os profissionais que se constituem Educadores observados: a não diferenciação entre ler em voz alta e contar histórias. Ler, entre outras funções, conduz o leitor e o ouvinte, sujeitos do processo, a se apropriarem da linguagem escrita, das formas de escrever, dos recursos lingüísticos e/ou gráficos que os autores utilizam para enriquecer o texto. A pessoa que ler muito, quando conta histórias fala de um modo mais aproximado às estruturas da escrita, sem muitas repetições, sem abuso de conectivos informais, a exemplo do “ai”, e se apropria, muito mais, de uma enorme diversidade de estruturas como disposição gráfica e outros elementos dos muitos gêneros textuais: versos, rimas, prosa, descrição, narração, diálogos, discursos indiretos, exposição de idéias. Enquanto que o contar história traduz muito mais a magia do leitor no ato de viver o texto, pois pode ser mais enriquecido com gestos, falas, onomatopéias, trejeitos, etc. Alem das possibilidades de interação do (a) autor (a) com o (a) contador (a), do (a) contador (a) com os ouvintes, dos acréscimos ou supressões de expressões que o (a) contador (a) pode realizar no texto contado e não no texto lido.
Entretanto, todos os problemas citados, até então, já estão sendo minimizados, face às formações que estão acontecendo, com vistas à boa utilização das Bibliotecas Móveis, doadas pelo IA e pelo ICC, via CENPEC, como ação de um Projeto dos referidos Institutos, intitulado “Ler: prazer e saber”, que tem como meta principal disseminar o prazer de ler, ou melhor, formar Educadores/alunos leitores.
Resta-nos prever Orientações, nas outras formações previstas, visando diminuir outros problemas, também observáveis:
1. Outras estratégias de motivação, inclusive para os educadores:
· Leitura e declamações de Poesias;
· Festivais literários;
· Jograis;
· Exposições de versos ilustrados;
· Concursos literários;
· Elaboração de livros;
· Feira de livros;
· Pesquisas acerca de escritores;
· Conversa com escritores;
· Leituras compartilhadas;
· Vídeos sobre livros;
· Concertos de Leitura;
· Contação de histórias, com e sem recursos;
· Ler para idosos, cegos, etc.
· Etc.
2. Outros procedimentos pedagógicos que levam à formação do leitor;
3. Procedimentos de valorização da leitura de livros, como contra ponto as mídias atuais, especialmente a internet;
4. Melhoria das estratégias de desenvolvimento das habilidades de leitura das crianças haja vistas que a grande maioria não sabe ler (aquisição do código escrito);
5. Trabalhos com os livros de literatura do acervo doado;
6. Estratégias divertidas para se levar os alunos a conhecerem as partes dos livros e a amá-los;
7. Restauração e conservação de livros;
8. Atividades para o desenvolvimento da atenção, especialmente para alunos com problemas quanto a este aspecto, e àqueles que ainda não estão acostumados aos livros, bem como os alunos considerados especiais, com deficiências físicas e/ou mentais;
9. Estratégias próprias para o trabalho de formação do leitor adolescente;
10. Estratégias para compreensão de textos mais complexos, ou seja, que trabalhem habilidades mentais mais elaboradas.
Ana Lúcia de S. Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário