domingo, 27 de fevereiro de 2011
Arte em foco: Di Cavalcante e Drumond, sobre Carnaval
Emiliano Di Cavalcanti, Carnaval, 1960
Mulatas, malandro, linhas, cores, formas...
Este conjunto de elementos traz a tona a sensualidade e o gingado,
presentes no Carnaval Brasileiro.Poesia brasieleira sobre o cotidiano,
entre cores e pinceladas.
Poesia em prosa
Fala Drumond
Alegria, Entre Cinzas
(…)
Milhares e milhares e milhares
de passistas sambistas bateristas
servidores de um rei que pula e não castiga,
tiram a pestana suficiente
para emendar a festa com o batente.
Pequeno Luis Rei de França do Salgueiro
despe a magnificência, pede a bênção
ao pai, bombeiro hidráulico, na oficina.
(….)
Que mortes vegetais o grão desfile
foi lavrando no corpo da cidade?
Que atropelos , atrasos, prejuízos
dançaram de ciranda-confusão,
para que açafatas e marqueses
surrealistas de uma noite
deslumbrassem turistas-privilégio
em arquibancadas equipadas
com sanitários fiberglass
que em lugar nenhum outro aos joões-brandões
atendem no momento de aflição?
Agora, pausa para um descanso, ate que rufem novamente os tambores. Drumond minimiza os efeitos do carnaval pela penitencia, pelo convite a espiritualidade:
(..)
Cinza, cinza redentora
de todos os pecados contra o gosto
cometidos e a cometer em nome da alegria
( essa senhora tão ausente
dos programas alegres).
Ainda de pareôs, sarongs, camisetas
suados de pular, hoje caídos
no chão cinza do quarto
ressonam meus irmãos.
Que bocejo de festa cansadeira
No bustier de lenço drapejado.
Lamê enlameado na sarjeta.
Strass.
Stress.
Liza Minelli passou entre passistas?
Frank Sinatra não veio, como sempre.
O mundo-melhor de Pixinguinha
e o mundo-melhor dos utopistas
dissolvem-se na mesma inconclusão.
De qualquer modo, irmãos, amigos meus,
Ouçamos a palavra que em Mateus
(VI-160) está gravada:
“ Não vos entristeçais como os hipócritas…”
Há sempre uma promessa de alegria.
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